Intervenção de Ana Sofia Ligeiro na Conferência Nacional 2022

De fevereiro a abril o balanço dos resultados eleitorais sintetizou-se em: foi uma derrota eleitoral, a conjuntura nacional e internacional foi madrasta, e agora é tempo de olhar para a frente, de seguir viagem, de definir o rumo!

O secretariado crê, ou faz-nos crer, que a atual do partido é uma fatalidade.

Perdemos influências política, deixámos de ser parceiros do PS, assumimos uma feroz oposição, que tínhamos refreado nos últimos anos, perdemos parte de voz, perdemos parte da nossa subvenção.

Temos hoje mais dificuldades: em fazer oposição ao PS, em manter a estrutura do partido e em ter espaço para afirmar a esquerda transformadora que somos.

Mas estas dificuldades são um passo do caminho que o secretariado nacional escolheu. Este secretariado somou à conjuntura, o alinhamento político, que proclama como unânime, depois de passar o rolo compressor da maioria em todos os órgãos estatutários do partido.

A discussão, que constrói e transforma, continua a ser uma miragem, na Mesa Nacional e na Comissão Política.

Orgulhamo-nos das nossas contas certas, públicas e auditadas.

Vimos a nossa linha política auditada pelo povo, que nos infligiu uma pesada derrota. Mas o Secretariado Nacional recusa ser auditado pelo partido. Deixou o balanço das eleições para as concelhias e para as distritais, prometeu culminar este balanço numa Conferência Nacional, mas afinal restringiu-a à definição do Rumo Estratégico do Partido, uma fuga em frente, em formato de propaganda e comício, que pouco ou nada deixa para a base do partido decidir.

Ficcionamos agora o partido/movimento que sempre quisemos. Preferimos um centralismo eficaz, que capitaliza o poder da gestão de recursos do partido, enquanto dilui a responsabilidade das derrotas, e dos erros, no coletivo.

Precisamos cá dentro da democracia que pregamos na rua. Não somos suficientemente democráticos quando forjamos debates que deveriam construir uma proposta comum.

Diz-se que é altura de corrigir o trajeto do passado, isto é: corrigir a linha política, diminuir a vulnerabilidade aos resultados eleitorais e aumentar o nível de independência política.  

Proclamamos ser a esquerda transformadora, pois sejamos.

Levantemos os bandeiras certas: anticapitalistas, laborais, feministas, ecologistas, LGBTIQA mais todas as letras onde caiba cada uma das pessoas que conta com a nossa voz.

Façamos isso cá dentro e para fora, porque é para isso eu existimos enquanto partido.

Sejamos também a esquerda transformadora cá dentro, dentro deste partido – movimento.

Definir um novo rumo implica olhar e corrigir os lapsos do passado.

Levantemos cá dentro a bandeira da democracia plena, devolvamos ao partido, e a cada um dos aderentes, a sua voz.

Convoquemos a Convenção Nacional! Sem receios, sem ressentimentos, porque não?

É esse o espaço reservado à definição da estratégia para encarar o futuro, e é disso que precisamos agora!