Intervenção de Ana Sofia Ligeiro na Conferência Nacional 2022

Temos hoje mais dificuldades: em fazer oposição ao PS, em manter a estrutura do partido e em ter espaço para afirmar a esquerda transformadora que somos.
Mas estas dificuldades são um passo do caminho que o secretariado nacional escolheu. Este secretariado somou à conjuntura, o alinhamento político, que proclama como unânime, depois de passar o rolo compressor da maioria em todos os órgãos estatutários do partido.
A discussão, que constrói e transforma, continua a ser uma miragem, na Mesa Nacional e na Comissão Política.
Orgulhamo-nos das nossas contas certas, públicas e auditadas.
Vimos a nossa linha política auditada pelo povo, que nos infligiu uma pesada derrota. Mas o Secretariado Nacional recusa ser auditado pelo partido. Deixou o balanço das eleições para as concelhias e para as distritais, prometeu culminar este balanço numa Conferência Nacional, mas afinal restringiu-a à definição do Rumo Estratégico do Partido, uma fuga em frente, em formato de propaganda e comício, que pouco ou nada deixa para a base do partido decidir.
Ficcionamos agora o partido/movimento que sempre quisemos. Preferimos um centralismo eficaz, que capitaliza o poder da gestão de recursos do partido, enquanto dilui a responsabilidade das derrotas, e dos erros, no coletivo.
Precisamos cá dentro da democracia que pregamos na rua. Não somos suficientemente democráticos quando forjamos debates que deveriam construir uma proposta comum.
Diz-se que é altura de corrigir o trajeto do passado, isto é: corrigir a linha política, diminuir a vulnerabilidade aos resultados eleitorais e aumentar o nível de independência política.
Proclamamos ser a esquerda transformadora, pois sejamos.
Levantemos os bandeiras certas: anticapitalistas, laborais, feministas, ecologistas, LGBTIQA mais todas as letras onde caiba cada uma das pessoas que conta com a nossa voz.
Façamos isso cá dentro e para fora, porque é para isso eu existimos enquanto partido.
Sejamos também a esquerda transformadora cá dentro, dentro deste partido – movimento.
Definir um novo rumo implica olhar e corrigir os lapsos do passado.
Levantemos cá dentro a bandeira da democracia plena, devolvamos ao partido, e a cada um dos aderentes, a sua voz.
Convoquemos a Convenção Nacional! Sem receios, sem ressentimentos, porque não?
É esse o espaço reservado à definição da estratégia para encarar o futuro, e é disso que precisamos agora!