Intervenção de Maria Conceição Anjos na Conferência Nacional 2022
Quanto à primeira, é costume dizer-se que a tradição já não é o que era, mas, se quando um partido perde 50% dos votos e mais de 70% dos deputados, não deve desse facto tirar ilações, então não sei quando deverá.
A dimensão do desaire justificava que a maioria assumisse uma postura de humildade que permitisse uma análise séria e profunda, por parte dos militantes, das opções políticas que têm vindo a ser seguidas e, conjuntamente, se pudesse definir uma nova bússola para o partido.
Por outro lado, ter-lhe-ia ficado bem mostrar disponibilidade e desapego pelos lugares, uma vez que estes são passageiros, enquanto a luta, essa sim é permanente. Há sempre uma primeira vez para tudo e também para haver consequências de reiterados maus resultados, mesmo no seio da esquerda.
Não foi o que aconteceu e é pena!
Quanto à segunda justificação, se é verdade que numa primeira fase não houve uma proposta formal para a realização de uma Convenção Nacional, nem na Mesa Nacional nem na Comissão Política, mais tarde foi enviado a esta última um Apelo, subscrito por mais de 100 militantes, que solicitava o agendamento de uma Mesa Nacional com essa finalidade.
A Comissão Política não foi sensível a este apelo.
Nada de estranho, é a democracia a funcionar, dirão alguns.
Estranho é o texto com que o secretariado respondeu, um texto acintoso, cheio de inferências, num desrespeito total por quem pensa de maneira diferente, enfim, num tom de quem quer, posso e mando. Pensar diferente, em aspetos tão inócuos como a necessidade de realizar uma convenção nacional, não pode significar ostracização.
Sim, é verdade, senti-me menorizada, indesejada.
Não me revejo nem me identifico com nenhuma das acusações inscritas nesse texto. Nunca foi minha intenção obstinada a substituição da direção ou a promoção de qualquer desgaste público do partido.
Coisa bem diferente é ver quartada a minha liberdade de me poder pronunciar quando em desacordo com posições que, em meu entender, violam os estatutos do bloco e deixam muito a desejar, no que se refere à democracia interna.
Se a empatia é a delicadeza da alma, não há, por parte desta maioria, qualquer resquício do que isso seja.
Num momento tão difícil, como o que estamos a viver, que devia ser de diálogo, tolerância, inclusão, pacificação … nada disso se verifica, pelo contrário, a direção insiste em provocar desunião, acicatar ânimos, despedir funcionários, reduzir contribuições que em muitos casos implicarão o encerramento de sedes e constrangimentos à atividade política, ou seja, tudo aquilo de que não precisamos, pelos anticorpos que, naturalmente, se vão gerando.
Dirão que são uma necessidade, que são danos colaterais do resultado eleitoral obtido, mas pergunto eu, o resultado eleitoral obtido não é consequência das opções políticas tomadas pela maioria?
Mais uma vez não vai haver responsáveis e as causas para os sucessivos insucessos ficarão, invariavelmente, identificadas, como circunstanciais.
Direi mais, estes resultados não surgiram de geração espontânea, tiveram um antes, as opções políticas da maioria, e vão ter um depois.
Desejamos todos que o depois seja o melhor possível, contudo, esta atitude de inflexibilidade, é tudo menos galvanizante. Veremos o que nos traz o futuro próximo, na certeza de que estando o ponto de partida em valores mínimos, será difícil não fazer melhor.
Termino com um apelo, sendo certo que ninguém tem uma varinha mágica que nos faça sair, de imediato, da situação em que nos encontramos, comecemos por coisas simples, ouvirmo-nos, respeitarmo-nos, não menorizar ninguém … deixemo-nos de sectarismos, precisamos de todos e de cada um, pois essa sempre foi e será a matriz do bloco.